domingo, 11 de janeiro de 2009

Isto não está acontecendo comigo

1992, neste ano completei meus 18 anos de idade, sonho de independência, liberdade, maioridade, mas nem tudo eram flores, tinha um fantasma chamado exército.

As histórias e lendas sobre o exército e seus processos de alistamento, apresentação e convocação eram sempre contadas, só de pensar me dava um frio na barriga, e a barriga e sensações que ela muitas vezes nos proporciona que vai ser o pilar desta história.

No colégio onde estudava eu tinha dois colegas que iriam completar 18 anos naquele ano, estava chegando à época do alistamento, que naquele tempo era feito no centro de Belo Horizonte, era necessário passar a noite numa longa fila, para conseguir efetuar o alistamento. Combinamos, eu e meus dois colegas de encontramos no centro, e ficarmos juntos na fila. Tomei um banho chamei um táxi e sai de casa carregando um envelope pardo com documentos necessários para aquela empreitada, conversei muito com o taxista, me recordei de uma frase que ele havia dito e que uso até hoje, ele disse que numa cidade como B.H. depois da meia noite, não aparece nada que presta na rua, puxa com fui lembrar disto agora. Voltando a história, encontrei com meus dois colegas, Sandro e Shosas, na verdade o Shosas tinha o nome de Alexandre, mas isto não vem ao caso.

Eu e meus colegas fomos caminhando em direção a fila, de longe já avistamos algumas pessoas já postadas, ao aproximarmos paramos em frente a uns cidadãos vestindo gorros e enrolados com cobertores cinza aqueles usados por transportadoras para proteger móveis em mudanças, ao pararmos na frente dessas pessoas, fomos muito bem recebidos com palavras de carinho e fraternidade, achamos que eles eram os últimos da fila e na verdade eram os primeiros, depois daquela recepção calorosa fomos procurar a outra ponta daquela fila, andamos quase um quarteirão e sentamos ali no chão mesmo, aquela noite seria longa. Mal tínhamos sentado, eu com meu envelope pardo impecável, comecei a sentir algo estranho, a sensação veio bem sutil e veio crescendo. Puta que pariu eu estava com um principio de dor de barriga, não , não podia ser por que eu, meu Deus, se existisse uma escala de 0 a 5 para medir uma dor de barriga, aquela indicava uma escala que possivelmente, teriam que reunir os especialistas em escala de dor de barriga, pois a gradação daquele desconforto era 6,5. Nossa comecei a rezar, e rezei muito, rezava um pai nosso, uma Ave Maria e uma oração para meu anjo da Guarda,sucessivamente, meu corpo estava todo arrepiado,e eu não sou de arrepiar, meu olhos marejam quando ouço histórias de fantasmas,quando o Galo é campeão, e o hino é tocado choro muito, mas o fenômeno do arrepio não me visita sempre, é a coisa estava feia para mim, de madrugada, numa noite fria e desandado, deixei meu envelope pardo impecável com o Shosas, levantei me, lembro de uns caras gritando, me chamando de vara pau e outras coisas, mas naquela altura do campeonato tudo o que queria era me aliviar, fui numa rua escura e tentei uma moita, mas meu corpo ou cérebro ainda tinham um mecanismo de dignidade, e interviram não permitindo aquela operação, simplesmente a escotilha de lançar torpedos não funcionou, mas a caldeira daquele navio de 1,93 m, estava a todo vapor, e meu mecanismo de dignidade iria entrar em colapso a qualquer momento, de longe vi um posto de gasolina, lembro até o nome: POSTO ADALBERTO FERRAZ.

O estabelecimento estava fechado e escuro, lá logicamente tinha um banheiro, vi um vigia e pedi com toda humildade do mundo: “Moço estou na fila do alistamento e preciso com urgência de um banheiro, por favor. O Moço muito solidário me mostrou um banheiro, típico de fundo de posto de gasolina, eu ainda estava lúcido, fiz um reconhecimento e vi que não tinha papel higiênico, antes de começar a operação, meti minha carona preta para fora do banheiro e perguntei para aquele tomador de conta de patrimônio dos outros, se ele tinha papel higiênico, o pobre infeliz me ofereceu um papel que enrolava um biscoito frito, o papel era puro óleo, recusei educadamente , dentro do banheiro haviam uns jornais, mas enfim a hora do lançamento estava próxima, eu estava com um alien dentro de mim que precisava sair, me lembrei que estava calçando meias, ainda bem que havia ido de meias, eram umas meias do Paraguai , com aquele jacarezinho da Lacoste, eles ficaram para trás naquele noite dos horrores.

O resto da história não tem muita emoção, passamos a noite na fila até amanhecer, cheguei em casa naquele mesmo dia quase na hora do almoço.O curioso desta história é que meu pai ao encontrar comigo, disse que tinha sonhado comigo e que eu estava querendo cagar no meio da rua ele disse que não era para eu fazer cocô ali...

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